Língua Galica

Quando Quintus, irmão do Cícero, foi sitiado pelos Nervii na Gália, Júlio César enviou-lhe uma mensagem secreta - em Grego, não em Latim, para que não pudesse ser lida pelos inimigos se estes a interceptassem. Isto porque o Latim e as línguas da Gália eram muito semelhantes, ao passo que o Grego tinha apenas uma relação distante (e também tinha um alfabeto diferente). Infelizmente os Gauleses não nos deixaram literatura, pelo que as duas línguas antigas Europeias que normalmente estudamos são o Latim e o Grego.

Apesar da semelhança, o Gálico não era uma língua de Itália como o Latim, mas pertencendo ao grupo Celta de línguas, cujos derivados modernos incluem o Gaélico, o Galês e o Irlandês. Os  antigos Celtas foram chamados por Keltoi, Celtae, Galatae ou Galli, que são realmente quatro formas diferentes do mesmo nome. Por volta de 390 A.E.C. Roma é saqueada pelos Gauleses. Em 279 A.E.C. atacam Delphi, e algum deles fixam-se a nordeste da Turquia: estes eram os Gálatas, cujos descendentes receberam a epistola de Paulo. Os Celtas ocidentais viviam principalmente no norte de Itália, França e a Bretanha, e eram estes os “gauleses” encontrados por César.

O conhecimento bastante precário e básico da língua Gálica advém-nos dos autores clássicos e de um número pequeno de inscrições em gálico. O mais longo e famoso destes registos é o calendário de Coligny, conservado em duas placas de bronze achadas em 1897 em Bourg na França Oriental. É um calendário lunar com meses de 29 dias; o calculo do tempo lunar feito pelos Gauleses é mencionado por Casear (Guerra de Gallic 6.18).

Muitas palavras de Gálicas assemelham-se ás suas correspondentes Latinas:

 

 Gálico / Latino

-cue 'e' -que

es 'fora de" ex

are 'antes' ante

ver 'em cima' super

allos 'segundo' alius

tarvos 'touro' taurus

tri 'três' tres, tria

more 'mar' mare

rix 'rei' rex

 

Os civitates aremoricae de Casear são os que vivem are more ( = ante mare). O seu oponente o famoso Vercingetorix  é o sobre-rei (ver - rix) dos guerreiros (cingetos = cinged do Irlandês ”campeão”).

 

No calendário de Coligny, o verbo divertomu aparece no fim de cada mês e significa “pôr de lado”(indo para um mês diferente) : seu equivalente Latino é o divertimus muito semelhante. O verbo comeimu significa 'vamos juntos' (Latim con- 'junto' + imus 'vamos', de eo, ire).

As semelhanças das declinações Gálicas e Latinas são bastante claras neste exemplo:

 

Gálico / Latim

Nominativo -os /-us (antigo -os)

Genitivo -i / -i

Dativo -u (antigo -o) / -o

Acusativo -om / -um (antigo -om)

Nom. Pl. -os, / -oi -i (antigo -oi)

Gen. Pl. -om / -orum (antigo -om)

Dat. Pl. -obis / -is (antigo -ois)

Acc. Pl. -ons / -os (antigo -ons)

 

Algumas palavras Gaulesas não têm nenhum equivalente em Latim, pois estes referem algumas coisas desconhecidas em Roma: "sabão" sapo ( Os Romanos usavam azeite), cervesia 'cerveja' (Romanos bebiam vinho), tunna 'barril' (Os Romanos usavam jarros de barro como forma de armazenamento do vinho), bracae 'calças’ (Os Romanos usaram uma toga ou túnica). Nossa palavra 'castor' está relacionada a beber, o nome Gaulês para este animal, sendo que será daí que deriva o nome Bibracte , nome de um povoado Gaulês. (O equivalente Romano, castor, é possivelmente a origem de nosso óleo de “rícino”, que tem um certa semelhança com um óleo amargo da antiga medicina e que era extraído dos corpos de castores.)

A semelhança entre o Gálico e o Latim ajudou o primeiro a desaparecer. Sob o governo r Romano, os Gauleses acharam o Latim relativamente fácil de aprender e eventualmente esqueceram-se da sua própria língua. Já no fim do Império, quando os Gauleses eram invadidos pelos Franco-Germânicos, o Gaulês estava perto da extinção. Isto explica por quê a língua francesa moderna é baseado no Latino e no “Frankish” (forma de língua germânica falada pelos francos), em vez do Gaulês.

L. A. Curchin